Comunicado do NEPRE da SED

NEPRE Central

Curtas

Para começar a semana...
Violência (na escola?) Parte 2
Puxa, gente! Eu devia ter imaginado que não iria esgotar o tema num só “Curta”. Quer dizer que este merece um LONGA. Kkkkkkkk! Procurei agrupar as perguntas de vocês por similaridade e complementaridade. As perguntas específicas foram respondidas diretamente às escolas e às GERED que as enviaram. Mais uma vez, obrigada pela participação.

P: As pessoas podem viver em meio à violência e acabar se acostumando a ela?
R: Essa questão demonstra o quanto o fenômeno é complexo. Há pessoas que assimilam a violência como ferramenta educacional. Elas aprendem a conseguir as coisas por meio de atos violentos, ou aprendem que a violência que sofrem é por sua própria culpa, não do agressor. Eu tive uma aluna que quase foi assassinada pelo pai, quando era pequena. Ela só escapou de morrer porque gritou muito. O padrão aprendido se ampliou e tomou novos rumos. Já na adolescência, ela gritava com seus colegas a fim de se impor. Se eu não soubesse de seu histórico, como poderia aprender a lidar com ela?  Na mesma sala, havia um garoto que gostava de sentar com as meninas e falar de “assuntos de meninas”, como eles denominavam. Os garotos do fundão debochavam dele, agrediam-no verbalmente, batiam nele, e o chamavam por nomes feios. Cultuavam o padrão que eu já tinha observado no próprio pai de um desses alunos – um cara do tipo “valentão”.
Como as pessoas lidam com a violência, depende do contexto. Mas é fato que as pessoas sofrem as consequências. Há quem desenvolva doenças psicossomáticas e estresse. Há quem se torne moralmente anestesiado - e acredite que arrebentar a cabeça de um torcedor adversário, usando um vaso sanitário como arma, seja algo “normal”. Há quem diga: “O Mané mereceu. Quem mandou torcer pelo outro time!” Os valores se relativizam, então a violência prolifera. Tudo porque o ser humano perde valor.

P: A violência está relacionada à corrupção, à educação decadente, e ao capitalismo? Como combatê-la?
R: Tudo em sociedade é intercambiado.
Contudo, a violência, a corrupção, a educação, o capitalismo são conceitos. Construtos humanos para tentar explicar fenômenos humanos muito complexos. Em menor e maior medida se influenciam mutuamente, mas seria muito superficial atribuirmos causas, consequências, e culpas disto e daquilo. O interessante é observar. 

P: A violência acontece por que? Fanatismo, Corrupção, Impunidade, Criminalidade?  Violência acontece porque as pessoas não são tão bem educadas, hoje em dia, como antigamente? 
R: O que dizer de países de “Primeiro Mundo” vandalizando, espancando, assediando determinadas etnias para expulsá-los ou submetê-los? O que dizer das Grandes Guerras? Dos extermínios étnicos? Violência é um fenômeno que pode ter causas diferentes em momentos distintos, porém, ela está presente em toda a nossa História, e em todos os países.
A violência pode ser usada como arma que atende a certos interesses. A violência pode ser uma perda de controle. A violência pode ser uma afirmação de poder, de supremacia, de seleção dos que controlam os meios e modos de produção sobre o restante da população, que gira as engrenagens porque lhes foi ensinado a se submeter. A violência pode acontecer pela incapacidade de aceitar, ou respeitar, o direito do outro. A violência pode acontecer como espetáculo de horrores – para se ter uma plateia. A violência pode se tornar fashion. A violência pode ser uma forma de defesa.
Enfim, a violência pode ser muitas coisas. Precisa de contexto.

P. Há uma forma de definir algo tão abrangente como a violência?
R: Se a violência precisa de contexto para ser compreendida, fica difícil criar uma regra geral para dizer – a violência é isso ou aquilo. Podemos compilar experiências e explicá-las. No entanto, eu costumo dizer que a violência pode ser sistêmica, endêmica e epidêmica.
Sistêmica, porque pode se articular em/com diferentes espaços, tempos e esferas de convivência.
Endêmica, porque pode vir do próprio indivíduo e emergir das relações que estabelece; especialmente, as familiares.
Epidêmica, porque “contagia” outras pessoas, segmentos, e grupos... Por exemplo, um quebra-pau pode se espalhar. A frequência da violência pode se intensificar. Atos violentos podem incitar novos incidentes, porque se tornam exemplos (maus exemplos, mas ainda assim: exemplos). A imitação e replicação dos eventos é algo que acontece quando atos de violência ganham destaque.

P. Como estimular sentimentos opostos à intenção de cometer violência, isto é, como promover a cultura da paz?
R: A cultura da paz é algo maravilhoso, especialmente se a gente lembrar de que é a paz humana.Precisamos valorizar o ser humano. Ele deve ser “a parte” mais importante da cultura da paz. Muitos de nós valorizamos ter coisas, valorizamos rituais, valorizamos experiências e sensações inebriantes... No entanto, com muito frequência, não valorizamos o ser humano - o próximo - como a finalidade de todas as ações humanas. O ser humano é quem realmente deveria importar. Para muitas pessoas, parece apenas importar quando se precisa de algo. Quando o outro atende a uma finalidade. Quando se lucra algo com ele. Então, não só esquecemos que o ser humano é importante, como esquecemos que nós mesmos somos seres humanos. Merecemos valor. Não somos deuses, mas também não somos mercadoria, ou objeto de barganha. Somos seres humanos.
Não é apenas um dia de cultura da paz que vai fazer essa visão se consolidar. É um trabalho de formiguinha - todo dia, o mês todo, o ano todo, todos os anos.
A vida inteira. 

P. Existem técnicas que podem ser utilizadas na escola, para neutralizar a violência e incutir valores construtivos?
R: Existem estratégias que podem auxiliar a escola a buscar um objetivo baseado no diagnóstico de sua situação. Por exemplo, cada escola tem um volume de problemas com os quais tem que lidar diariamente, que podem ser menos ou mais específicos do que outras escolas. É preciso conhecer o aluno, sua família, a comunidade, para então pensar nas estratégias.
Em se tratando de violência, existem ações que focam aspectos das relações humanas. Nos EUA, por exemplo, com relação aos adolescentes infratores, existem muitos programas que privilegiam as técnicas de foco, voltadas para fazê-los perceber o ser humano como humano, não como objeto, ensinando-os a se colocar no lugar dos outros – particularmente, no lugar das vítimas que eles agrediram. Isso porque, frequentemente, a violência implica em “despersonalizar” o ser humano – isto é, torná-lo objeto. Quando isso acontece, o agressor não vê o outro como alguém que, como ele, merece respeito; mas como algo que deve se submeter a sua vontade.
Há projetos que giram em torno da mediação de conflitos, para que sejam bem solucionados antes de se tornarem algo mais grave. Nesse caso, há uma infinidade de técnicas de diálogo, troca de experiências, e de depoimentos de vida. Há ainda as técnicas lúdicas e ocupacionais, voltadas a desenvolver atividades que os educandos apreciem, conciliando suas habilidades naturais e, assim, propiciando o fortalecimento de sua identidade pessoal. Há, ainda, as ações protagonistas; projetos que os jovens tomam a liderança criativa, bem como assumem a execução. E isso também é estratégico para o convívio escolar.

Alguns filmes interessantes, para trabalhar com os jovens: Jogos Vorazes/ Jogos Vorazes em ChamasA incrível Senhora Ritchie, Intocáveis.

Caso tenha dúvidas sobre o tema, ou queria socializar experiências neste espaço – casos, reflexões, etc, envie para: nepresedsc@gmail.com ou michelleaprende@sed.sc.gov.br

Uma boa semana!  
Michelle Domit 
Psicóloga; e Consultora Educacional
GEREJ/+Edc/SED

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